Parceria JDRF-SBD Answering your coronavirus questions on T1D. Respondendo às suas questões sobre coronavírus e DM1 – Parceria JDRF-SBD

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Tradução: Luis Eduardo Calliari

Texto publicado em https://www.jdrf.org/blog/2020/03/24/answering-your-questions. Tradução e publicação autorizados por JDRF.

Todos os dias, recebemos uma enxurrada de perguntas da nossa comunidade de diabetes tipo 1 (DM1) sobre o coronavírus e qual o significado dessa doença para aqueles de nós que vivem com DM1. Ao longo desta pandemia, compartilharemos as Dez Melhores Perguntas e respostas de especialistas na área.

Nós aqui da JDRF não somos especialistas médicos, mas trabalhamos com os melhores profissionais do país na área e estamos procurando por eles para ajudar com suas perguntas. Mesmo assim, essas respostas não se destinam a ser conselhos médicos, para isso — como sempre — você deve consultar seu próprio médico pessoal.

Parte 1- Entendendo o risco.

1. Nós, pessoas com DM1, somos mais suscetíveis a pegar COVID-19?

Esta é a pergunta mais frequente e é compreensível que exista tanta preocupação.

Consultamos os principais médicos e especialistas em todo o país e entendemos a partir deles que a resposta é: NÃO. As pessoas que têm DM1 bem controlado não são mais propensas a contrair o COVID-19. Mas, aqueles com níveis consistentemente elevados de açúcar no sangue, provavelmente estarão em maior risco.

Abaixo está a opinião da Dra.Anne Peters, diretora do programa de Diabetes Clínico da Universidade da Califórnia do Sul, em entrevista a colegas da JDRF:

“É improvável que o DM1, por si só, seja um fator de risco para contrair o vírus da COVID-19.

“Sabemos que glicemia mal controlada cria um risco aumentado para todas as infecções, e por isso não há razão para pensar que com essa doença seria diferente. Pessoas mais velhas, e pessoas doentes precisam ter muito, muito cuidado para não contrair coronavírus. Pessoas mais jovens, pessoas saudáveis e em boas condições — eu não acredito que elas estejam em maior risco.”

2. Por que o CDC e a Organização Mundial da Saúde estão dizendo que ter diabetes nos coloca em maior risco?

Conversamos com vários especialistas sobre isso e recebemos a mesma resposta: a categorização de que as pessoas com diabetes estão em maior risco é ampla e sem especificidade. Para aqueles com DM1, ele se aplica diretamente aos com DM1 mal controlado. Sobre este tema, aqui está a endocrinologista de renome nacional Dra. Mary Pat Gallagher, diretora de Diabetes Pediátrico no Centro de Diabetes Pediátrico do Hospital Hassenfeld da Universidade de Nova York, Langone. Ela falou com jdrf em 24 de março via Facebook Live:

“Eu posso entender a confusão. O CDC, a Organização Mundial da Saúde e a Associação Americana de Diabetes… todos mencionam que existem certas condições que o colocam em risco aumentado ou maior risco de doença grave. E diabetes está nessa lista. Quando você não separa que tipo de diabetes uma pessoa tem, e você não as separa por idade, e você não as separa por outras condições médicas que também ocorrem, e você não as separa pelo controle glicêmico — você apenas coloca todos em um pote — pessoas com diabetes são hospitalizados com maior frequência, com COVID-19, bem como outras doenças respiratórias, e, eles têm uma taxa de fatalidade maior.

No entanto, os resultados são muito diferentes se ajustarmos o risco para idade e para outros fatores. O que sabemos sobre o COVID-19, é que parece que [aqueles com DM1] são igualmente [não mais] suscetíveis.”

3. Se alguém com DM1 contrai COVID-19, corre maior risco de desenvolver complicações graves?

Ao falar com vários especialistas e médicos, temos sido repetidamente informados de que aqueles com DM1 bem controlado, e aqueles que continuam a manter bons níveis de glicose durante esta ou qualquer outra doença, não devem ter maior risco de desenvolver complicações graves do COVID-19.

Controlar os níveis de glicose durante uma doença pode ser desafiador, mas é extremamente importante. Leia mais aqui sobre as etapas a serem tomadas para gerenciar seu T1D e sua recuperação com qualquer doença.

4. Se o controle dos níveis de glicose é fundamental para não ser de alto risco, devo me preocupar mesmo que a minha hemoglobina glicada (HbA1c) esteja em torno de 7, ou seja, dentro da meta?

Especialistas concordam que alguém com DM1 e níveis consistentemente elevados de açúcar no sangue provavelmente estará em maior risco de contrair a doença e ter complicações mais graves. Falamos com os especialistas sobre os valores de HbA1c que podem colocar alguém em maior risco.

“Não se preocupe se estiver em 6 a 7,3. Você não corre nenhum risco maior”, disse a Dra. Gallagher. “Se você está em bom controle, você terá melhores resultados. Para as pessoas que têm uma A1c de 12, sim, elas são consideradas de alto risco, e eu estou preocupada com as pessoas que têm A1cs muito elevadas, porque eu me preocupo que seus sistemas imunológicos não vão ser capazes de lutar contra isso tão eficazmente como as pessoas que têm melhor controle.

5. As pessoas com DM1 não são consideradas “imunocomprometidas” ou “imuno-suprimidas”? E, portanto, naturalmente sob maior risco?

Dra. Peters: “Eu não acho que diabetes tipo 1 faz você imuno-suprimido. Historicamente, é assim que as pessoas pensam disso — porque se suas glicemias estão muito altas, provavelmente isso as torna mais suscetíveis a infecções. Mas não é um comprometimento imunológico como se estivesse usando um medicamento imunossupressor ou fazendo quimioterapia. Não é a mesma coisa. Há um efeito da glicemia no sistema imunológico e níveis mais altos de glicose podem tornar o sistema imunológico menos robusto, mas não vejo isso como um estado de imunossupressão em um paciente bem controlado com diabetes tipo 1.”

6. As crianças com DM1 são mais suscetíveis?

Não há evidência de que crianças com DM1 sejam mais suscetíveis ao COVID-19. De fato, informações vindas da China, Itália e outras áreas que têm exposição a longo prazo do que os Estados Unidos indicam que as crianças estão gerenciando a doença muito melhor do que os adultos, com muitos apresentando pouco ou nenhum sintoma.

“Felizmente nossos colegas na Itália e no Oriente Médio relatam que as crianças e adolescentes com diabetes não foram afetados de forma diferente pela infecção”, segundo Kim Donaghue, presidente da Sociedade Internacional de Diabetes Pediátrico e Adolescente (ISPAD).

“Parece muito improvável que crianças apresentem sintomas”, disse a Dra. “Não é que seja improvável que as crianças contraiam a doença. É improvável que as crianças mostrem sinais de infecção. Um dos problemas é que elas podem ser vetores secretos disso —podem ser assintomáticos — e… espalhar através de espirro e tosse.”

7. Meu filho pode visitar avós que têm DM1?

Embora isso seja difícil de acontecer, especialistas aconselham, quando possível, a “distância social” entre crianças e idosos, já que estes estão na categoria de alto risco de contaminação. Um avô com DM1 tem idade, diabetes e potencialmente outras doenças. As crianças, mesmo que não estejam doentes ou apresentando qualquer sintoma, podem estar carregando o vírus.

A Dra.Gallagher disse que alguém pode estar infectado por uma média de cinco dias antes dos sintomas aparecerem. As crianças, ela observou, podem não apresentar sintomas.

“Isso é o que está por trás de uma recomendação para tentar permitir que seus avós e pessoas com mais de 70 anos fiquem longe de seus filhos, que são muito propensos a estarem infectados e não apresentarem nenhum sintoma, a menos que você esteja fornecendo cuidados diretos a eles”. O objetivo é “proteger a população que está em maior risco de precisar de internação e ter um desfecho grave”.

8. O que faço se moro com alguém que tem DM1 e tem outros fatores, como idade ou condição crônica de saúde, que os coloca em maior risco?

Se você vive com ou cuida de alguém que está em alto risco, especialistas estão pedindo que você reduza as chances de ser exposto ao COVD-19, já que nesse caso você reduz a chance de passar a doença. Você pode ficar doente sem mostrar sintomas. O vírus também pode permanecer vivo vários dias em superfícies — então você pode ser um portador. Quando você não pode restringir suas próprias atividades, especialistas pedem precauções extras: abstenha-se de abraços e beijos; lavar as mãos imediatamente ao entrar em casa; se você usar um lenço de papel, jogue-o fora imediatamente, depois relave as mãos e use toalhas de papel em vez de toalhas de pano; e limpe as superfícies que você tocar.

Dra. Peters: “A pessoa com quem vivo tem 75 anos e tem diabetes. Não posso deixá-lo adoecer. E não é por causa do diabetes, é porque ele tem 75 anos. Então, eu sou insanamente cuidadosa. Temos a sorte de ter nossos próprios banheiros — banheiros são um ponto de propagação. Se você dividir um banheiro, descontamine-o. Você não pode compartilhar toalhas; você tem que manter tudo separado.

Estou em uma posição de alto risco porque estou atendendo pacientes o dia todo. Quando eu volto do trabalho, antes de fazer alguma coisa, eu tiro o avental, jogo na máquina de lavar, corro para cima e tomo banho. Então, eu me descontaminei. E assim que você fizer isso, você pode ficar na mesma casa tranquilamente. Não vamos contaminar um ao outro!”

9. Quais são os riscos globais de adoecer com o COVID-19?

Para entender o nível de contaminação e risco, analisamos várias perspectivas.

Risco: Segundo o CDC, o risco de quadros graves é baixo para a grande maioria da população.

  • O risco imediato de ser exposto a esse vírus ainda é baixo para a maioria dos americanos, mas à medida que o surto se expande, esse risco aumentará.
  • As doenças relatadas variaram de muito leve a graves, incluindo quadros que resultaram em morte. Embora as informações até agora sugiram que a maioria da doença de COVID-19 é leve, um relatório vindo da China sugere que a doença grave ocorreu lá em 16% dos casos.
  • 80% dos óbitos foram em adultos com 65 anos ou mais, com condições médicas crônicas graves, sendo o maior percentual de desfechos graves ocorridos em pessoas com 85 anos ou mais.

Impacto vs gripe: Apesar do COVID-19 ainda ser uma doença nova, a John Hopkins Medicine relata que o impacto do COVID-19 é muito menor do que o da gripe anual. Considere:

  • COVID-19: 351.731 casos em todo o mundo; 35.241 casos nos EUA (a partir de 23 de março de 2020*)
  • Gripe: Estimado em 1 bilhão de casos em todo o mundo; 9,3 a 45 milhões de casos nos EUA por ano.
  • COVID-19: 15.374 mortes registradas em todo o mundo; 473 mortes nos EUA (a partir de 23 de março de 2020*)
  • Gripe: 291.000 a 646.000 mortes em todo o mundo; 12.000 a 61.000 mortes nos EUA por ano.

*Dados do mapa Coronavirus COVID-19 Global Cases, desenvolvido pelo Johns Hopkins Center for Systems Science and Engineering.

Taxa de Mortalidade: De acordo com dados do CDC, Organização Mundial da Saúde e compilados pelo MPR News, essa é a mortalidade do COVID-19 quando comparado com outras doenças:

  • Ebola (2013-16): taxa de 39,5% de fatalidade
  • Gripe de 1918 (1918-20): 10%
  • SARS (2002-03): 9,64%
  • COVID-19 (2019-?): 1,40%
  • Gripe sazonal: 0,15%
  • Gripe Suína: (2009-10): 0,02%

10. Se os riscos parecem controláveis, por que tantas precauções e preocupações?

“Não se trata de proteger a maioria de nós — trata-se de não sobrecarregar nosso sistema hospitalar e proteger nossa população vulnerável”, disse a Dra. Gallagher. “Então é realmente um ato de solidariedade. Eu não acho que você precisa entrar em pânico e correr para as colinas. Cerca de 90% das pessoas que recebem isso vão sentir como se tivessem resfriados. Eu entendo que parece contra intuitivo – como assim? então o que estamos fazendo? Mas realmente é sobre não sobrecarregar o sistema hospitalar porque é um vírus novo e ninguém é imune a ele.”

Dra. Peters disse: “Eu acho que é normal se preocupar e é normal ficar chateado porque todas as nossas vidas mudaram muito. Mas eu acho que a comunidade de diabetes tipo 1 é um grupo maravilhoso porque é tão interconectado, e eu acho que todo mundo só precisa se conectar uns com os outros. Atenha-se ao básico do diabetes tipo 1, todos vocês sabem como viver com isso, vocês sabem como lidar com isso. Isso não vai mudar…. Vamos criar um novo normal, temos esperança de que isso vai melhorar…. Eu acho que, por um lado, a situação é bem preocupante, mas por outro lado, talvez não seja tão grave, então não entre em pânico.”